A
vida é cheia de datas que marcam, mas algumas têm o poder de transformar tudo.
Para mim, 15 de janeiro de 2015 foi uma dessas. A data em que o mundo ganhou um
novo significado: descobri que seria mãe. A notícia trouxe muita alegria,
prometendo uma jornada de amor e descobertas.
Eu
e meu esposo, que vivemos o mundo através do som e do toque, já imaginávamos a
nossa amada filha Natália. O parto estava marcado para 10 de setembro, e a
contagem regressiva era para esse dia. No entanto, a vida nos surpreendeu.
Devido a uma pré-eclâmpsia, a Natália chegou mais cedo, em 13 de agosto de
2015. Nesse dia, o meu mundo e o mundo dela se encontraram. O primeiro choro, o
primeiro toque das pequenas mãos dela nas minhas... Em cada segundo, a vida se
enchia de um propósito que eu jamais havia imaginado. O nascimento da minha
filha não foi apenas o nascimento de uma pessoa; foi o nascimento de um amor
incondicional e de uma nova perspectiva sobre a vida.
Curiosamente,
nesse mesmo ano, o Brasil também estava em processo de transformação. A
sociedade clamava por mais equidade e respeito às diferenças. E, como se a vida
estivesse costurando eventos importantes, foi em 6 de julho de 2015 que o país
viu a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência,
conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
A
lei, que entrou em vigor em janeiro de 2016, veio para garantir e promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
por pessoas com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Enquanto o meu mundo se expandia com a chegada da Natália, o Brasil se expandia
em consciência e compromisso, reafirmando que a inclusão não é um favor, mas um
direito.
Assim,
2015 se tornou um ano duplamente simbólico. O ano em que minha filha Natália
nascia e o ano em que uma lei maior, que representa um avanço para a sociedade,
nascia para proteger e acolher a todos, sem exceção.
Porém,
a vida real nem sempre segue o roteiro idealizado pela lei. A Natália chegou ao
mundo antes do previsto, resultado de uma pré-eclâmpsia que nos pegou de
surpresa. A prematuridade, com todas as suas incertezas e desafios, nos jogou
em um universo onde a teoria da inclusão é confrontada pela dura realidade do
capacitismo.
Apesar
da existência de uma lei tão significativa, fomos, infelizmente, vítimas do
preconceito. Aquilo que a legislação buscava coibir, se manifestou nas atitudes
e palavras de pessoas que, por falta de conhecimento ou empatia, me machucavam.
Ouvimos frases que nos diminuíam, enfrentamos a infantilização e fomos tratados
como se a nossa condição e o nascimento prematuro fossem um problema que nos
pertencia unicamente. O capacitismo nos atingiu em cheio, mostrando que a lei,
por si só, não muda mentalidades. Ela é um instrumento, mas a verdadeira
transformação acontece nas pessoas.
Essa
experiência me fez entender que, enquanto a lei de 2015 foi um passo gigante
para a sociedade, o nascimento da minha filha Natália me mostrou que a
verdadeira lei, a que precisamos construir todos os dias, é a lei do respeito,
do acolhimento e da quebra de paradigmas, uma lei que nos ensina a olhar para
as pessoas e não para suas condições físicas.