20/05/2019

A Rotina de um Casal com Deficiência Visual: Quebrando Estereótipos e Promovendo a Inclusão

Muitas pessoas ainda possuem uma visão distorcida da realidade vivida por casais com deficiência visual, criando suposições errôneas que, em diversas situações, causam constrangimento e sofrimento. Através deste texto, pretendo desmistificar alguns mitos e compartilhar um pouco da nossa rotina, na esperança de promover a compreensão e a inclusão.

Independência e autonomia: pilares da nossa vida
Assim como a maioria dos casais, moramos juntos e cuidamos da nossa filha, Natália, com total independência. Apesar de contarmos com o auxílio de uma faxineira no momento, essa realidade nem sempre foi assim. No passado, por questões financeiras, gerenciávamos todas as tarefas domésticas sozinhos, o que também é comum em lares sem deficiência.
Sou perfeitamente capaz de realizar tarefas como lavar louças, roupas, limpar e passar a roupa, e me sinto realizada em cuidar da nossa casa com o mesmo esmero que qualquer outra mulher. A decoração também é uma paixão, e a escolha dos objetos que adornam nosso lar é feita por mim com muito carinho.
No que diz respeito aos cuidados da Natália, dividimos as responsabilidades: eu e meu marido damos banho, vestimos e cuidamos de tudo que ela precisa. Em ocasiões especiais, como o aniversário dela, gosto de contar com a ajuda de alguém que enxerga para me auxiliar na escolha do vestido ideal, pois nem sempre encontramos vendedoras nas lojas preparadas para descrever com detalhes as peças.

Superando desafios e construindo uma vida plena
Administramos nossa casa, nossas carreiras e a criação da Natália com a mesma competência e dedicação de qualquer outro casal. Somos formados em História (eu) e Ciências da Computação (meu marido), e encontramos na tecnologia um aliado fundamental para superar as barreiras da deficiência visual.
Fazemos compras no mercado, na farmácia, em lojas de roupas e calçados, utilizando aplicativos de celular para transporte e organização. Temos plena noção de tudo que acontece em nosso lar e nas necessidades da nossa filha, buscando sempre oferecer a ela a melhor qualidade de vida possível.

A infância da Natália: amor, cuidado e proteção
A Natália tem uma infância como qualquer outra criança, repleta de brincadeiras, aprendizado e momentos felizes. Jamais a consideraríamos como nossa cuidadora, pois o papel de pais é nosso, e o amor, o cuidado e a proteção que dedicamos a ela são os mesmos que qualquer outro pai ou mãe oferece aos seus filhos.

Acessibilidade e inclusão: necessidades urgentes
Enquanto pessoas sem deficiência podem dirigir seus próprios carros, nós nos locomovemos com frequência por meio de aplicativos de transporte. Essa opção não representa falta de independência, mas sim a busca por qualidade de vida e autonomia.
A sociedade precisa evoluir para garantir acessibilidade e inclusão reais às pessoas com deficiência. Isso significa criar oportunidades, eliminar barreiras e promover o respeito à diversidade.

Julgamentos sem conhecimento: um obstáculo à compreensão
É fundamental que as pessoas evitem julgar as capacidades de um indivíduo com deficiência sem antes conhecer sua realidade. A análise crítica e construtiva só é possível após um entendimento profundo da situação.
Nossa rotina é similar à de muitos casais, com a diferença de que superamos a limitação visual aguçando os demais sentidos. Acreditamos que a inclusão e a quebra de estereótipos são essenciais para construir uma sociedade mais justa e humana.

Mentalidade inclusiva: a chave para o futuro
Adotar uma mentalidade inclusiva significa acreditar nas potencialidades das pessoas com deficiência e reconhecer que todos, independentemente de suas diferenças, merecem as mesmas oportunidades e o mesmo respeito.
Problemas e limitações fazem parte da vida de todos, e a deficiência visual não nos define como pessoas infelizes. Somos gratos pelas bênçãos que recebemos e pela vida plena que construímos, com amor, união e superação.

Espero que este relato tenha contribuído para desmistificar alguns mitos sobre a vida de casais com deficiência visual. Acredito que a inclusão é um processo contínuo que exige diálogo, respeito e a construção de pontes entre diferentes realidades.
Agradeço a Deus pela oportunidade de crescimento pessoal e pela missão que cumpro com a minha família. Que a vida nos reserve cada vez mais momentos de felicidade, conquistas e realizações!

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