09 setembro 2025

Quando Nasce uma Filha, Nasce uma Lei

A vida é cheia de datas que marcam, mas algumas têm o poder de transformar tudo. Para mim, 15 de janeiro de 2015 foi uma dessas. A data em que o mundo ganhou um novo significado: descobri que seria mãe. A notícia trouxe muita alegria, prometendo uma jornada de amor e descobertas.

Eu e meu esposo, que vivemos o mundo através do som e do toque, já imaginávamos a nossa amada filha Natália. O parto estava marcado para 10 de setembro, e a contagem regressiva era para esse dia. No entanto, a vida nos surpreendeu. Devido a uma pré-eclâmpsia, a Natália chegou mais cedo, em 13 de agosto de 2015. Nesse dia, o meu mundo e o mundo dela se encontraram. O primeiro choro, o primeiro toque das pequenas mãos dela nas minhas... Em cada segundo, a vida se enchia de um propósito que eu jamais havia imaginado. O nascimento da minha filha não foi apenas o nascimento de uma pessoa; foi o nascimento de um amor incondicional e de uma nova perspectiva sobre a vida.

 

Curiosamente, nesse mesmo ano, o Brasil também estava em processo de transformação. A sociedade clamava por mais equidade e respeito às diferenças. E, como se a vida estivesse costurando eventos importantes, foi em 6 de julho de 2015 que o país viu a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).

A lei, que entrou em vigor em janeiro de 2016, veio para garantir e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Enquanto o meu mundo se expandia com a chegada da Natália, o Brasil se expandia em consciência e compromisso, reafirmando que a inclusão não é um favor, mas um direito.

Assim, 2015 se tornou um ano duplamente simbólico. O ano em que minha filha Natália nascia e o ano em que uma lei maior, que representa um avanço para a sociedade, nascia para proteger e acolher a todos, sem exceção.

Porém, a vida real nem sempre segue o roteiro idealizado pela lei. A Natália chegou ao mundo antes do previsto, resultado de uma pré-eclâmpsia que nos pegou de surpresa. A prematuridade, com todas as suas incertezas e desafios, nos jogou em um universo onde a teoria da inclusão é confrontada pela dura realidade do capacitismo.

Apesar da existência de uma lei tão significativa, fomos, infelizmente, vítimas do preconceito. Aquilo que a legislação buscava coibir, se manifestou nas atitudes e palavras de pessoas que, por falta de conhecimento ou empatia, me machucavam. Ouvimos frases que nos diminuíam, enfrentamos a infantilização e fomos tratados como se a nossa condição e o nascimento prematuro fossem um problema que nos pertencia unicamente. O capacitismo nos atingiu em cheio, mostrando que a lei, por si só, não muda mentalidades. Ela é um instrumento, mas a verdadeira transformação acontece nas pessoas.

Essa experiência me fez entender que, enquanto a lei de 2015 foi um passo gigante para a sociedade, o nascimento da minha filha Natália me mostrou que a verdadeira lei, a que precisamos construir todos os dias, é a lei do respeito, do acolhimento e da quebra de paradigmas, uma lei que nos ensina a olhar para as pessoas e não para suas condições físicas.   

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